Em entrevista ao G1, Dave Ellefson conta sobre atual momento do grupo. O Megadeth se apresenta no primeiro dia do Metal Open Air, em São Luís (MA).
Engana-se quem pensa que o metal é um gênero no qual a maldição impera e não há espaço para religiões e ensinamentos como os do cristianismo. Dá pra dizer que é exatamente por conta dele, o cristianismo - mais especificamente, da fé de Dave Mustaine e Dave Ellefson - que hoje o Megadeth está vivo e mais forte do que nunca.
(Correção: ao ser publicada, esta reportagem informou que Dave Ellefson é guitarrista. O erro foi corigido às 9h42.)
De volta ao Brasil para se apresentar no Metal Open Air em São Luís, no Maranhão, a banda não vai tocar somente as músicas de "Th1rt3en" - disco lançado no fim de 2011 que o baixista Dave Ellefson considera um dos melhores trabalhos já lançados pelo grupo -, mas pretende fazer um longo show cheio de hits para agradar todo e qualquer tipo de fã.Em entrevista por telefone ao G1, o baixista Dave Ellefson falou da importância da religião em sua vida, lembrou dos tempos em que ficou fora do Megadeth e discutiu como pode servir de exemplo para que os fãs de metal vejam a religião como algo a se considerar.
G1 – O Megadeth está de volta ao Brasil após ter tocado aqui recentemente. Estão felizes por voltarem ao país?
Dave Ellefson – Sim. Estou bem ansioso, para dizer a verdade.
G1 – Dessa vez, vocês tocarão em um festival de metal, gênero que os brasileiros apreciam muito. Como acha que estará a atmosfera do evento?
Dave Ellefson – Acho que estará fantástica. Quero dizer, o Brasil tem sido meio que um pioneiro em fazer esses festivais gigantes e globais, muitos deles com vários gêneros musicais. Acho que é sensacional esse ser especificamente voltado para o metal. Desde a escalação até os fãs que estarão lá... Certamente estamos felizes em ir até o Brasil para tocar, especialmente em uma cidade e uma região que não nos apresentamos anteriormente.
G1 – O setlist do show será focado no disco novo?
Dave Ellefson – Tocaremos algumas novas, definitivamente. Acho que o fato de termos mais tempo pra tocar [a banda fecha a primeira noite] faz com que dê para mostrar mais coisas do disco novo. Mas acho que, a essa altura de nossa carreira, nossos fãs talvez tenham entrado no nosso mundo em momentos distintos da nossa música. Então, para nós é um luxo poder tocar músicas de tantas fases diferentes de uma trajetória que já tem quase 30 anos.
G1 – A banda ficou satisfeita com o show do SWU no ano passado? O que se lembra daquela ocasião?
Dave Ellefson – Foi fantástico. O Brasil tem feito um trabalho muito bom ao longo dos anos no que diz respeito à produção e divulgação, e realmente vem criando uma bela comunidade com as pessoas daí e com seus festivais, sabe? Agora ficamos sempre ansiosos. Sempre que o telefone toca e alguém chama a gente pra tocar no Brasil, tentamos fazer dar certo.
G1 – O disco “Th1rt3en” foi lançado em 2011. Estão felizes com esse trabalho?
Dave Ellefson – Sim, ficamos muito felizes. Acho que houve um progresso muito grande para nós, mas é como se esse disco tivesse sido composto na época do “Countdown to extinction”, de 1992. É engraçado, porque aquele álbum saiu após a turnê do “Rust in peace”. Nesse novo, nós criamos após a turnê de 20 anos do “Rust in peace”. Fizemos o “Th1rt3en” nesse meio tempo. Acho que, de alguma forma, é como voltar no tempo e ao mesmo tempo seguir em frente.
G1– Você colocaria esse disco ao lado dos melhores trabalhos do Megadeth?
Dave Ellefson – Acho que sim, claro. Acredito que seja um disco amplo, com alguns riffs bons e pesados, tem também alguns elementos melódicos mais simples e ainda uma construção profunda das composições, como é possível ouvir em músicas como “Thirteen” e “Millenium of the blind”.
G1 – Você voltou ao Megadeth em 2010, você e o Dave Mustaine fizeram as pazes e hoje são cristãos renascidos... quer dizer, parece que é mesmo um novo momento para a banda. Como você enxerga os tempos atuais para o Megadeth?
Dave Ellefson – Eu concordo. Sabe, as bandas passam por transições e algumas não aguentam o tranco e acabam se desfazendo, o que sempre considero uma pena. Pois, quando você realmente vive a experiência de ter uma banda e faz isso quando é jovem, você é mais idealista, talvez tenha uma missão e uma visão, e essa visão pode ser colocada à prova, podendo se desfragmentar se você não se mantiver verdadeiro. Porque os estilos musicais mudam, a mídia muda, o gosto do público varia e se você se mantiver na ativa por tanto tempo, como é o caso do Megadeth, passará por temporadas em que será abraçado pelo mainstream, passará por períodos em que sua base de fãs vai mudar, e eu acho que se você se mantiver realmente fiel em relação à música que gosta de tocar, os fãs também vão gostar. No fim das contas, é metal. Acho que o Megadeth provou que o metal não precisa ter apenas uma dimensão, que pode ser algo amplo e expansivo.
G1 – Você e o Dave Mustaine tiveram problemas no passado. Consegue se lembrar do momento no qual vocês voltaram a se falar e resolveram todas as pendências?
Dave Ellefson – Bem, verdade seja dita, Dave e eu nos falamos por várias vezes durante o tempo que estive longe do grupo. Em uma das ocasiões, nos encontramos por acidente em uma loja e, uma outra vez, ele estava na cidade e me ligou para jantarmos juntos. Posso dizer que nem eu e nem o Dave gostávamos de ter essa diferença entre nós. Essa foi uma das oportunidades que tive de comunicar isso a ele e acho que nós dois queríamos nos ver trabalhando juntos outra vez, então foi o passo que tomamos.
O grupo se desfez em 2002 e, naturalmente, todos seguiram adiante com suas vidas porque, naquela altura, estava tudo terminando, acabado. Em vez de ficar sentado sem esperança e achando que tudo voltaria a ser como era, eu segui em frente. Às vezes é difícil largar aquilo que sua vida se tornou e voltar para algo que, sinceramente, havia se desfeito. Então minha atitude em relação à volta para o Megadeth era algo como "talvez se rolar algo no futuro e for uma coisa em que todos nós façamos algo visando o fututo, estou totalmente de acordo". Mas voltar no tempo e tentar recriar algo do passado? Isso nunca funciona.
A volta foi algo que surgiu na nossa frente ironicamente na forma do aniversário de 20 anos do “Rust in peace”, e essa foi provavelmente uma das maiores celebrações de toda a nossa história. Poder fazer a reunião em torno disso foi como o final de uma história da Cinderela.
G1 – Quão importante é o cristianismo em sua vida e música?
Dave Ellefson – Acho que a maioria de nós da sociedade ocidental vem de alguma forma de criação cristã. Eu cresci em uma casa luterana. Esse é um estilo de religião que é muito natural aos descendentes de europeus. Já as crenças orientais se encaixam com aquelas pessoas, sabe? Os que vivem no Oriente Médio têm suas crenças também. Minha atitude é “viva e deixe viver”. Uma das piores coias que você pode fazer é desafiar as crenças das pessoas, porque é nisso que eles acreditam, é como elas são e o que as move, sabe? E Deus nos fez de um jeito único. Um único jeito não serve para todos na comunidade de Deus.
G1 – Você acredita que o fato de você e Dave serem cristãos pode ajudar a mudar a mentalidade de que “Deus não é legal” no universo do metal?
Dave Ellefson – Espero que sim. Em primeiro lugar, acho que nossa reconciliação e a volta do Megadeth tem muito a ver com nossa crença cristã, com certeza. Esperamos que as pessoas vejam isso como um grande exemplo de dois homens deixando que o cristianismo faça parte de suas vidas. Acho que dá para conseguir muito mais pelo exemplo do que por ficar sentando falando o dia todo.
Fonte: G1
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