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quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Death: confira uma das últimas entrevistas de Chuck Schuldiner
Nesta quinta-feira (13/12), marca o 11º aniversário da morte de um dos músicos mais importantes em toda a história do Metal.
Trata-se de Charles Michael Schuldiner, mais conhecido como Chuck Schuldiner, aquele que recebeu o título de "Pai do Death Metal", devido à sua grande colaboração na difusão do gênero, através da incrementação de várias de suas influências musicais.
Em fevereiro do ano 2000, Chuck concedeu a uma entrevista após ter sido submetido a uma cirurgia para remover o tumor do cérebro. Naquele momento, ele estava em casa ainda se recuperando.
Infelizmente, mal sabia o "Mr.Scarlate" que aquela seria uma de suas últimas entrevistas. Aproximadamente um ano depois, o gênio do Metal perdeu a batalha contra uma forte pneumonia, resultante de sua fragilidade causada pelo tumor cerebral.
No entanto, Chuck nunca desistiu e perseverou até o fim. E além de acreditar na possibilidade de uma cara, também apostava ainda mais em seus projetos musicais. Com isso, ele não só deixou para as gerações futuras uma vasta contribuição e influência na cena Heavy Metal, mas sim uma lição para toda a vida.
Confira abaixo a entrevista concedida à revista americana Metal Edge:
É ótimo falar com você após tudo o que você passou. Para aqueles que não sabem, o que foi que exatamente aconteceu?
Chuck: Basicamente, em maio, eu fui diagnosticado com um tumor no cérebro. Há cerca de um mês e meio, completei um período de seis semanas de radiação em Nova York. Acabei de retornar, pois fui fazer uma revisão (apenas um check up). Eles queriam repetir uma tomografia e coisas desse tipo. Aí, em Dezembro, eu voltarei lá para encontrar com os meus médicos, e fazer mais raios-x. No momento, é um grande jogo de espera. Esse lance da radioterapia demora cerca de um mês para fazer efeito, mas eu achava que iria lá, fazer as sessões e isso seria tudo. Mas, não é bem o que acontece. Leva cerca de 1 mês após a aplicação para termos os resultados. Portanto, é uma questão de espera, e não se sabe exatamente o que está acontecendo. Os médicos estão satisfeitos com o que têm visto até agora. Eles estão muito otimistas. Sinto-me um cara de sorte. Eu tenho recebido bastante apoio de meus amigos e da minha família, além de pessoas ao redor do mundo. Tem sido incrível, realmente incrível!
Então ainda irá demorar mais um tempo para saber se o tumor foi completamente removido?
Chuck: Isso mesmo, e é realmente uma bosta. Essa coisa toda de ficar esperando é com certeza a pior parte. Se bem que os meus médicos são pessoas bastante otimistas. O fato é que estou tratando com alguns dos melhores especialistas do país. Também estou indo em um cara que pratica uns lances alternativos que são muito bons. Portanto, estou tendo o melhor dos dois mundos. Até lá, tudo o que eu posso fazer é relaxar na Flórida, e já estou trabalhando no próximo disco, na verdade, estou fazendo isso porque agora tenho esse tempo livre. Tenho feito as coisas que sempre fiz, fazendo churrascos, saindo com os meus amigos, escrevendo musica, além de alimentar meus gatos e cachorros. E isso é tudo o que eu realmente posso fazer.
A doença tem afetado o seu dia a dia?
Chuck: Sim, um pouco. O que está acontecendo é que, primeiramente, eu achava que estava com um nervo pinçado. O meu pescoço estava doendo. Fui a um quiroprático e isso não surtiu efeito, então fui a um massagista, o que acabou funcionando por alguns dias e cheguei a me sentir melhor. Em seguida, fui a uma acupunturista. Consultei-me com ela cerca de cinco vezes e simplesmente não estava me ajudando. A essa altura, comecei a sentir uma fraqueza no meu braço esquerdo, e foi ela quem disse: "Olha esse tratamento já deveria ter surtido efeito, recomendo que você procure um médico e faça uma tomografia". Então foi quando me disseram: “Você tem um tumor no cérebro e ele está pressionando os nervos do seu pescoço”. Ironicamente, eu tinha um nervo pinçado. No momento, estou com um inchaço que está pressionando os meus nervos, o que tem atrapalhado um pouco os movimentos dos meus braços e pernas. Portanto, acaba afetando as minhas atividades diárias. Mas, eu tenho confiança em mim mesmo, e estou tocando guitarra e fazendo as coisas normalmente. Tenho trabalhado em meu jardim. Tenho feito tudo aquilo que eu quero, na medida do possível, é claro. É meio estranho ficar pensando que a radiação ainda está funcionando em mim, mas é o que acontece. É bem pesado…
Você ainda sente dor?
Chuck: Um certo desconforto. Não é dor. Só mesmo o desconforto. Você não pode chegar e dizer "Uau, foda-se essa situação!" Eu quero continuar a fazer o que fazia normalmente, o máximo que eu puder. Eu moro numa casa, tenho que trabalhar em meu jardim. Tenho tempo livre, estou escrevendo material novo e tentando viver uma vida normal.
Já que estão prevendo uma recuperação completa, então a dor passará?
Chuck: Sim, com certeza. No momento, a dor que tenho sentido é resultado do inchaço. A radiação causou esse inchaço, mas o tumor em si também tem causado inchaço, foi isso que me fez pensar que tinha um nervo pinçado. Disseram-me que esse tipo de tumor – que provavelmente o tenho há anos e não sabia – demora um tempo para chegar ao estágio, e se mistura com algo lá dentro, e é aí que você sabe que tem algo errado. Então você pensa: "Caralho, o que está acontecendo?". É aí que as pessoas percebem que o tem. Provavelmente está lá há anos, o que é bem insano, principalmente quando penso nesse tempo todo que passei berrando em cima de um palco. Você meio que pensa com si mesmo, “Que merda! Isso com certeza não estava ajudando”.
Você chegou a se apresentar com dor?
Chuck: Acho que não. Eu cheguei a me preocupar em gritar desse jeito durante tantos anos, e não é algo legal para se fazer com o seu cérebro! Mas o estilo vocal do Death é muito insano. Por uma hora e meia, duas horas em cima do palco todas as noites, eu nunca achei que esse fosse um estilo vocal muito saudável. Eu com certeza não o recomendaria para ninguém. Quem sabe? E o stress também pode ser um fator importante em variados tipos de câncer. Você começa a ler sobre o assunto, e percebe que vários fatores podem contribuir para o aparecimento de um câncer.
Você já disse que não gosta dos vocais de Death Metal. Mas essa experiência o mudou como artista?
Chuck: Com certeza, mas eu sempre tive como meta levar o Control Denied à frente, assim que o Death acabasse a turnê. Eu só queria desesperadamente fugir do estilo vocal do Death, e do nome da banda, e seguir em frente por muitos anos. Eu me sentia bem à vontade na minha decisão de ir em frente com o Control Denied, e fazer dele um trabalho em tempo integral.
Acha que o jeito de escrever para o Control Denied é diferente do jeito para o Death?
Chuck: Na verdade, não. A verdade é que eu estava bem animado para saber que quando as partes das guitarras estivessem completas, não teria que gritar o tempo todo, e de um jeito que poderia acabar estragando. Com o Death, sempre senti que as pessoas gostaram da música, mas não dos vocais, algo que eu compreendo. Eu era o primeiro a dizer, "É, eu entendo o que você está falando". Portanto, quando chegou a hora de escrever algo para esse novo disco, fiquei feliz em saber que iria ouvir o tipo de vocal apropriado, alguém que pudesse realmente cantar.
E sabendo que o nome da banda seria diferente, sabia que isso não importaria. A música é bem parecida, tirando os vocais. Essa foi a beleza de todo o processo. Eu estava fazendo o que queria, mas indo em frente e do modo correto. Ao mudar o nome da banda, trouxe um novo vocalista, mas mantendo a atitude que as pessoas irão esperar de mim após tantos anos, eu acho. Algo que é muito difícil de se fazer é mudar o seu modo de escrever. Se alguém chegasse para mim e me pedisse para escrever uma musica de rock comercial, acho que até conseguiria fazer, mas seria algo muito difícil para mim, digo, me simplificar dessa maneira. Quando chegou a hora de escrever, escrevi do modo como eu sempre escrevo, não queria jogar fora o que passei 14 anos construindo.
Então o Control Denied é na essência uma combinação de tudo o que você tem feito com o Death? Você precisava do Death para chegar ao Control Denied?
Chuck: É isso o que eu acho. É definitivamente um link direto. Mais ou menos como gêmeos siameses, eles estão grudados, mas com certeza tem personalidades diferentes um do outro.
Como você espera as reações dos fãs do Death?
Chuck: Eu acho que a maioria dos fãs do Death são ''cabeça aberta'', pois o Death é muito melódico, progressivo e extremo em diferentes modos. Como no ano passado, durante a tour, eu via todo o tipo de camisas de Metal na plateia que você possa imaginar – do Metallica ao Slayer, passando por Pantera, Iron Maiden e King Diamond. Eu me sinto bastante abençoado,pois somos uma banda que tem um publico bastante variado. Mesmo com o Death sendo uma banda extrema, como eu disse, é ao mesmo tempo melódica. Por isso eu acho que com certeza os fãs irão gostar desse disco. Até agora, os comentários que ouço são do tipo, "Uau, a música é bem parecida com o Death, mas os vocais a elevam a um nível completamente diferente." E era exatamente isso que eu queria ouvir das pessoas.
Eu gosto do Death, mas os vocais me afastam um pouco...
Chuck: Eu também, sério mesmo. Sempre achei que os vocais são o link perdido do Death, especialmente nos últimos dois ou três álbuns. Mas eu não queria estragar. Muitas pessoas gostam desse estilo e eu queria me manter fiel ao que o Death era, e o que significava para as pessoas. Mas era muito frustrante porque eu sentia o mesmo que você. É muito complicado ser o cara que está cantando e se sentindo desse jeito, mas ainda assim, eu dava tudo de mim em cima do palco porque as pessoas reconhecem quando você está fingindo.
Você acha que as pessoas se sentirão traídas quando ouvirem você dizendo que os vocais são algo que você nunca gostou?
Chuck: Eu fui muito aberto com relação a isso, bom, pelo menos por um tempo. Naturalmente, terá pessoas que dirão, "Ah, que se foda esse cara! Ele se acovardou". Que se danem! Eu tenho 32 de anos de idade, e tenho feito isso há não sei quantos anos… há mais de uma década, 14 anos, enfim. É hora de seguir em frente. Você tem que evoluir. É como ter um restaurante e manter o mesmo cardápio para sempre, é preciso adicionar coisas a ele. Você tem que adicionar variedade. Você não pode forçar as mesmas coisas na goela das pessoas por anos e anos a fio.
Para mim, é uma simples questão de evoluir, fazer as coisas do modo correto. Eu não lancei um disco do Death com essas coisas. Eu tomei a decisão certa e mudei o nome da banda. Eu tento fazer tudo corretamente. Achei um vocalista que, além de melódico, consegue berrar ''pra caralho!'' As pessoas não ouvirão um cantorzinho farofa. Esse cara grita ''pra caralho'' e estou muito orgulhoso dele. Ele fez um excelente trabalho. Não poderia ter achado ninguém melhor.
Como você chegou até ele?
Chuck: Eu o achei em 1996, quando comecei a juntar esse material para o Control Denied. O guitarrista da banda dele naquela época, Psycho Scream, havia me mandado uma fita demo. O guitarrista disse, "Se você está procurando por um guitarrista e um vocalista, eu e o meu vocal estamos interessados em fazer um teste para o Control Denied." Bem, eu já havia achado o Shannon, meu atual guitarrista, e disse a ele que queria conhecer o Tim. Ele veio e fez o teste, nós fizemos uma fita demo, e foi perfeito. Eu sabia que ele era o cara. Eu estava à procura de alguém que pudesse ser melódico, mas era importante achar alguém que pudesse ser bastante cru também. É muito difícil achar essa combinação.
Fora isso, a line-up é basicamente do Death, não?
Chuck: Sim, quase isso. Na verdade, eu tive o retorno do meu antigo baixista, Steve DiGiorgio, que tocou conosco nos dois álbuns anteriores do Death. Ele é um dos melhores baixistas do mundo. Eu o conheço desde que tinha 18 anos. É uma grande honra tê-lo a bordo novamente. Além disso, temos Shannon nas guitarras e Richard Christy na bateria. Tem uma vibração bem familiar. Essa foi uma outra ação para querer manter as coisas intacta. Eu queria que as pessoas soubessem que iriam ouvir algo familiar e poderiam esperar algo em alto padrão. Pois as pessoas esperam, existe um padrão para ser mantido, e estou bem ciente disso.
O ano que se passou mudou o seus pontos de vistas em relação à vida e à sua carreira?
Chuck: Sim, eu vejo as coisas de um modo bastante diferente. Estive envolvido na musica por muito tempo, e isso meio que te faz pensar na vida. Nós tendemos a mergulhar de cabeça em qualquer que seja a atividade que estamos praticando e, com isso, esquecemos de olhar ao nosso redor, naquelas coisas que são realmente importantes, coisas normais do dia a dia. Eu estive bem próximo da minha família. Eu sempre fui um cara bem família. Sempre adorei várias coisas normais, como cozinhar e meus animais – meus gatos e cachorros – e ficar na companhia de meus amigos. Mas isso faz você repensar em tudo.
Ah, essas são as coisas mais importantes da vida. A música, naturalmente, é importante, mas faz você repensar .as coisas e reavaliar também. A realidade o assusta bastante. Faz você perceber que perdeu contato com bastante pessoas ao longo de seu caminho. Ironicamente, eu falei com bastante pessoas com as quais não falava a bastante tempo. Muitas pessoas vieram do nada para dar o seu apoio, e também amigos com que eu simplesmente perdi o contato. Isso te faz pensar, "porque maldito motivo eu não mantive contato com eles? Porque nós seguimos caminhos diferentes e nos distanciamos pelo o que fazemos com nossas vidas?" Sejaa música, ou se você trabalha em uma revista, é fácil perder do mundo. Realmente é, e quando você passa por algo traumático como isso, te joga contra a parede e te faz parar para pensar.
Então basicamente fez você repensar a sua visão e o jeito que você encara a vida?
Chuck: Com certeza. E como eu disse, sempre dei valor a minha família e coisas desse tipo. Mas definitivamente faz você olhar de outro modo. Um modo mais profundo. Quando eu estava passando pelos tratamentos em Nova York, fazia um tempo que não tocava a minha guitarra porque, naturalmente, não a levei comigo. Eu fui para casa e me senti atraído para escrever, mas de um modo diferente, não do jeito normal que eu sinto vontade de escrever. Eu preciso escrever!
Eu acho que é porque sabia que ia ser como uma terapia para mim. Então, eu fui para casa e escrevi uma música em um dia. Simplesmente sentei e escrevi a música e a letra. A música com certeza será diferente para mim de agora em diante, na verdade tudo será de um jeito legal. Nós não damos valor às coisas como seres humanos. Nós temos uma tendência de não dar valor a nada. Mas, às vezes, temos que nos afastar e, infelizmente, você é forçado a dar esse passo para trás, como no meu caso. A música sempre será diferente agora, em um bom sentido. As coisas normais da vida fazem você a se focalizar.
É uma pena que teve que acontecer algo desse tipo para que você percebesse isso, mas é bom que algo positivo tenha vindo disso tudo. Tem algo mais que você queira acrescentar?
Chuck: Apenas digo que aprecio bastante o apoio de todos. Todo mundo que me escreveu significa bastante para mim. Espero que as pessoas gostem do disco.
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Excelente entrevista. Nunca vou saber lidar bem com a morte do Chuck. Nunca poderei ver Death ao vivo e dizer o quanto admiro o Chuck e tudo isso me deixa muito triste. Mas ficou o legado pra nós. Obrigada Chuck por isso. Onde quer que esteja espero que esteja bem. Amo esse cara.
ResponderExcluirExcelente entrevista. Nunca vou saber lidar bem com a morte do Chuck. Nunca poderei ver Death ao vivo e dizer o quanto admiro o Chuck e tudo isso me deixa muito triste. Mas ficou o legado pra nós. Obrigada Chuck por isso. Onde quer que esteja espero que esteja bem. Amo esse cara.
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