A ansiedade tomou conta dos fãs na capital mineira assim que foi anunciada turnê brasileira do Soulfly, banda comandada pelo ex-vocalista do Sepultura Max Cavalera. Afinal de contas, Belo Horizonte espera a volta de um de seus filhos mais ilustres desde 1994, quando o Sepultura se apresentou com Ramones e Overdose em um hoje lendário show no Parque da Gameleira.
Mas assim que Goiânia foi anunciada com Rio de Janeiro e São Paulo para receber os shows, que ocorreram no fim de fevereiro, ninguém ficou mais frustrado do que o próprio Max, que não pisa na cidade há quase 18 anos. “Não entendi o que houve. Não sou eu quem planeja, não sou promotor, fico na mão de quem contrata a banda e escolhe isso. Mas, por mim, BH tinha que estar na turnê”, lamentou.
Esta não foi a primeira vez que a cidade ficou de fora de uma turnê do Soulfly. Em 1998, um show da banda, que havia sido recém-formada, foi cancelado em cima da hora. “A turnê foi feita nas coxas e foi boicotada pelo fã-clube do Sepultura. Acabou afetando o show em São Paulo e a os promotores cancelaram BH”, recorda. A decisão da organização está engasgada até hoje. “Foi uma sacanagem, isso me magoa muito até hoje, porque estava ansioso para tocar em BH e ficou um sentimento ruim”, dispara.
Mas uma nova chance para um reencontro pode estar a caminho. Uma turnê com o Cavalera Conspiracy, banda que Max formou com o irmão Iggor Cavalera assim que este saiu do Sepultura, está sendo programada para o segundo semestre. “Tem uma excursão no Brasil sendo negociada para agosto. Seriam 10 shows e Belo Horizonte está entre as cidades. Vou ficar na torcida para rolar. Seria inesquecível”, revela o vocalista. Além da capital, Porto Alegre, Manaus, Recife e Salvador foram citadas por Max para receber o grupo.
Raízes O músico não esconde a saudade que sente da terra natal, de onde saiu com o Sepultura para conquistar o mundo no início dos anos 1990. Para contar a história de como um jovem metaleiro mineiro se tornou um dos grandes nomes do metal mundial, Max Cavalera prepara uma autobiografia. O livro, que está sendo produzido em parceria com o escritor John McIver, já tem até nome. A boy from Brazil (Um garoto do Brasil) deve ser lançado até o Natal e vai contar com prefácio escrito por Dave Grohl, do Foo Fighters.
O processo de elaboração do livro acabou obrigando Max Cavalera a remexer no baú de memórias. Além do começo do Sepultura, lugares e pessoas de Belo Horizonte vão marcar presença nas páginas do livro. “Vai ter detalhes de como era a vida naquela época. Quero contar do Colégio Tiradentes, falar da praça do Santa Tereza, do bairro, do Bar do Bolão”, detalha. “Quero dar uma explicação legal de onde vim, de quais são as minhas origens. Quero entrevistar o pessoal da Cogumelo, quero pôr fotos da cidade para todo mundo poder ver como é um lugar muito bonito”, explica.
Histórias curiosas também terão lugar no livro. “A gente sempre zoava muito. Morávamos do lado do cruzamento onde nasceu o Clube da Esquina e chegou a sair uma matéria no jornal contando que a gente vomitava nesta esquina”, se diverte. Para ele, a cidade foi fundamental para o sucesso que viria. “Ser de Belo Horizonte foi um diferencial. Era meio inesperado, ninguém imaginava que ia vir uma banda de metal da cidade na época, isso pegou forte na cena e com certeza ajudou”, avalia, cheio de nostalgia.
Distância A saída do Sepultura, no fim de 1996, acabou distanciando Max Cavalera de Belo Horizonte. Hoje, ele lamenta saber pouco do que está ocorrendo na cena metal da cidade e se mostrou surpreso quando soube que bandas dos anos 1980, como Chakal e Witchhammer ainda estão na ativa. “Infelizmente, não conheço mais nada. O último com quem conversei foi o Jairo (Guedes, ex-guitarrista do Sepultura). Ele estava em turnê na Europa e tocamos na mesma cidade. Ele foi me visitar no ônibus, nós conversamos, foi legal”, lembra.
Contato de verdade, só com uma tia, que ainda mora em Santa Tereza. “Eu e o Iggor nascemos em BH, mas moramos em São Paulo até nosso pai morrer, quando éramos crianças. A casa em que ela mora hoje era da minha avó, foi o primeiro lugar que morei depois que voltei. Ligo para ela todo ano, para saber como estão as coisas, meus primos. Mas é a única pessoa daí com quem converso”, explica.
Caso a turnê do Cavalera Conspiracy seja confirmada, Max espera finalmente poder apresentar sua cidade natal para a família. “Me deu muita saudade de BH quando estava fazendo o livro. Faz bastante tempo que não visito a cidade, o Bairro Santa Tereza. Se a excursão se confirmar, vou pedir um dia de folga para curtir a cidade”, garante.
O roteiro já está pronto na cabeça do vocalista. “Quero mostrar tudo para os meus filhos. Santa Tereza, a praça, pegar um espaguete no Bolão, fazer o giro todo. Quero que eles vejam onde eu cresci, onde tudo começou”, detalha. Resta agora aos fãs torcerem para que o jejum de quase 18 anos seja mesmo quebrado em agosto.
CRÍTICA
Aula de história
Enslaved é o oitavo disco do Soulfly, o primeiro gravado com o baixista Tony Campos (Static-X, Asesino) e o baterista David Kinkade (Borknagar), que entraram na banda em 2011.
E se desde 2005, quando lançou Dark ages, a banda vem aumentando o peso e a agressividade, Enslaved mostra o auge desse esforço. Assumidamente inspirado no death metal dos anos 1980, de bandas como Possessed e Morbid Angel, o álbum periga ser o mais pesado de Max desde Arise (1991). Como o nome do disco revela, a escravidão é o tema central. O Soulfly dá uma aula de história abordando os vários momentos que levaram a humanidade a aprisionar seus semelhantes.
Legions e Treachery, por exemplo, são puro thrash metal, que poderiam estar tranquilamente em um disco do início dos anos 1990. Já a faixa Gladiator é outro dos destaques. Agressiva, serve como cartão de visitas para os novos membros e mostra toda a qualidade do guitarrista Mark Rizzo.
Mesmo cercado de excelentes músicos, é o próprio Max o destaque do disco. Aos 42 anos, ele não dá folga para a garganta e mostra o seu melhor trabalho como vocalista em muito tempo.
O disco é um dos pontos altos da carreira de Max como letrista. Compositor minimalista e que sempre aposta em rimas de efeito, desta vez ele expande as letras das músicas, com boas construções e sem fórmulas repetidas.
A experimentação fica para Plata o plomo, que conta a história do traficante colombiano Pablo Escobar, com letras em português e espanhol. Já Revengeance, que fecha o disco, foi escrita por Max em companhia dos filhos Zyon, Igor e do enteado Richie. O legado dos Cavalera está em boas mãos.
Fonte: Portal Uai
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